domingo, 19 de dezembro de 2010

Carmim

Eu quis tingir,
o meu microverso,
na côr das paixões invisíveis.
E no tom dos pormenores urbanos.

Eu penso que, ilusoriamente,
a chuva é resultado criacionável,
de uma mente divina deturpada.

E assim é meu pranto
fruto de um patamar ínfimo,
íntimo.
É um pranto incurável,
e vermelho.
Como toda as guerras, devem ser.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dói, porque tem que doer.

É o inverno dentro de mim,
que é encoberto pelas cores,
dos cinco dias de verão,
de Curitiba.

Eu sou toda imprudência,
Eu sou toda imperfeição.

Minha amiga, uma vez disse:
Ninguém te busca,
só buscam os próprios interesses,
e o que você pode fazer por eles.

E eu joguei minhas bonecas de pano,
todas num asilo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Minha ventura.

Quando a noite cai,
em cálido pranto,
eu choro baixinho,
à margem, de teu encanto.

E no vazio,
um beijo velado dou.
É o preço das parcelas,
desse amor:
-Que jamais frio, a distância me dá.

Quero o horizonte tecer em tuas mãos:
Quem dera eu, todo dia, teus olhos beijar.
E, no sonho do gran'mistério,
desse abismo, alçar o patamar.

Quero dizer que te amo,
e sorrir-te,
É meu paraíso,
nada mais.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Espelhos d'água.

Hoje,
eu visitei o riacho de minh'alma,
e mirei-me no espelho d'agua.
Os cascalhos do fundo,
eu via.
E os lírios brancos , á margem.

Era puro e belo,
o meu reflexo.
Pela primeira vez,
eu colhi o pranto, em sonho.

Toda água dos meus olhos,
era vertida em monumeto:
à paz, e ao amor que nunca vivi.
Que vivo hoje.

E da saudade que me aperta no peito:
É uma saudade bonita,
e diáfana.
Do amor á patria,
do amor á vida,
do amor a meu amor.
Que apesar de longe,
sempre está perto.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Á prova de balas

Um pássaro que é ferido,
jamais se esquece,
e aprende a alternar seu vôo.
Não se deixa ser abatido.

É assim com quaisquer encantos,
e laços.
Aqueles que só existem dento de mim.
E de ninguém mais.

Essa noite, amor,
não derramei nenhuma lágrima,
não escutei nenhuma música,
e pude dormir em paz.

Eu acordei e decidi fazer como as crianças,
àquelas que caem de bicicleta no parque.
Então fui comprar meu algodão-doce,
e me deixar sorrir.

E algum dia você volta,
prá me contar do mundo que você viu.
E algum dia você volta,
prá contar do teu mundo, que ruiu.

Enquanto você pensa que me feriu,
eu rio.
Feito criança.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Celibato.

Como a minha alma amiga,
Sóror Saudade,
hei de me fechar em claustro.
Embora este, nunca sofrido.

É um claustro fruído,
das provas que tenho que passar,
para Poder:
-Wish upon a star.

Poder claro,
e vasto.
Dos céus e das estâncias desconhecidas.
Do medo que é não mais.
E se foi -
Desconheceu-me.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Premier Amour

Hoje eu vi,
estampado no céu de Curitiba,
a ressaca dos meus olhos:
Eram azuis depois da chuva.

Eram azuis porque,
aqui dentro,
tem uma partezinha que me preenche-
por inteiro.
Que me faz voar a estâncias
e ver as estrelas.
Sem nunca sair do lugar.

sábado, 18 de setembro de 2010

Até a nova morte.

Esse mundo por si só é um placar nulo,
de zero a zero , de sombra e de pó.
É um abajur num quarto escuro,
é um Negão mártir de dar dó.

Nem Jesus salva, não.
Quem me dera ser pura de novo,
quem me dera ter de moça o coração,
e quem me dera quebrar a casca do ovo.

Verde vivo da bandeira e do planalto,
que tá vermelho de tanto se libar,
no opróbrio, sobre o morro ,morro alto,
que conjuga com as estrelas a beiramar.

Eu não Rio,
Não sou quente , eu sou do frio.

Até uma nova morte,
a que toda vida pressagia.
Sem Sorte.

domingo, 8 de agosto de 2010

A tristeza que vive.

Quando Deus criou a tristeza,
e nos séculos dos séculos,
decidiu soprá-la ao barro,
dentro de mim pô-la vivente.

Quando na hora do parto,
fez-me ver a resma de vida,
disse: não chores, filha,
a dor é o que tenho te consagrado.

E uma mansidão senil,
possuiu meu viver infante,
sempre um pranto servil:
da doênça agonizante.

Só com o pranto e a dor no peito,
da saúde frágil e do nunca entendimento,
me chamo tristeza,
e visto a minha mortalha como quem ri.

Com avareza esboço, um sorriso débil.
Enquanto um pranto cálido, sempre quieto,
me escorre ás faces.

Ninguém quer o infortúnio perto,
e eu que sou a mensageira das dores,
só sou evocada pelos sós e pelos poetas.

E vou errando pelo mundo,
até um dia, encontrar a solidão,
que seja essa, que me queira.



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vem maldito!
Pois é com a faca,
debaixo do travesseiro,
como o lince da noite que te espero.

A vingança é um privilégio dos bons algozes:
São só oa Anjos que a executam com maestria,
fazendo-na chamar Justiça.
Que sempre é magnânima,
e nunca mesquinha.

Pois faz tombar qualquer monumento,
dos erguidos sem presteza.
E tu, como um pródigo,
num podre admoestar-se,
Tomba só.

Que não venha, então.
Mas se vier,
a faca está debaixo do travesseiro,
e sua cabeça,
sem os olhos,
aos abutres , dada.

sábado, 10 de julho de 2010

Idiossincrasia.

Sinto Paz.
Do vórtice da melancolia dos que foram,
e dos que virão.
Parto,
e digo adeus áquela vida.

É a sindérese que agora se perpetua.

Não adianta ninguém cutucar minhas feridas,
nem com o fio frio da faca, amargar minhas reticências.

Só tenho como amor, a sinfonia das multicordas do universo.
E nenhuma mente pequena,
por mais ímpeto possessivo que tenha,
nunca vai outorgar.

Sou eu, os grandes e o universo.
Só.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Aforismo.

Os bibelôs da minha cristaleira quebraram-se todos:
A inteligência faz Prodígios.
E Monstros.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Perseguir calçadas.

É intuitivo, cinza concreto.
E faz no mínimo quatro anos.
Sei que não adianta,
mas mesmo assim faço.

Sempre com o olhar abaixado,
sem nunca olhar as pessoas em volta,
mas sempre as assitindo.

Eu procuro um dia.
Só isso.
Um dia que minha companhia,
não me dê tédio.
Nem seja eu mesmo.

Eu quero um dia-espelho,
na abstrata calçada de concreto,
que eu não seja infame.

E só.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Negativos.

O perfume que você gostava que eu usasse,
já não dói mais,quando eu passo.
Só sei que o que eu sentia,
já foi bonito.Antes.



A casquinha do machucado,
que eu tanto cutucava:
fiz depois de cair num tronco
porque tropecei no cachorro.
-Fechou e ficou uma cicatriz pequena.
Daquelas que sabem o porquê do seu lugar.

O desespero que eu tinha,
em ficar em casa,
trocou de lugar com o pijama.
E hoje, não há nada que me conforte tanto:
-Quanto um sal de fruta e um banho quente.
Ontem era um Pisco sauer e uma saia curta.
Só restou o velho Blues, aonde quer que eu esteja.

Ainda gosto de tirar fotografia das nuvens,
Elas se moldam suaves,
diferentemente das faces opressivas
cheias de traços grotescos
encontradas nas multidões.

Nem mediocre, nem feio
é o simples que quero.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

É Tempo.

I-

Em meu colo pálido,
não há mais pigente doce,
coloquei em seu lugar
uma pedra negra-
Que é a lápide, de tudo o que já se foi.

O semblante de moça esvaiu-se
descorando-me ás faces
e estancando meu peito:
Não quis mais beber das feridas passadas.

Ao invés, ficou um olhar,
um semblante mais altivo , comprometido
e menos arrogante.
Onde outrora se pusera a chama,
jaz aqui, a prudência.

II-

Vejo-te donzela embriagada,
multifacetada nas multidões.
Morta- e só, como em qualquer fim.

A morte, acaba com tudo:
A moléstia sexual, os abusos da infância,
o opróbrio e a mendicância.
Assim, em cinzas,
traz o tempo o ostracismo.
E este, a paz da não-existência.

III-

A molé(ca)stia, morreu e deixou seu corpo.
que como roceira senil,
atém-se ao ardil trabalho.

É esse o maior bem do homem,
quem nada leva desse mundo,
nem de bom , nem de ruim.

Epílogo-

A paz, a moça alça,
alça em voô colorido,
não como as mil canetas que jogou fora,
mas como qualquer lápis grafite.

Com a melodia das Faltas e dos Violindos,
Sem vinho , sem pão e sem porvir.
Só o tempo absoluto do agora:
capaz de pousar a pena sob a cabeceira,
e docemente adormecer.


-Livro de todas as penas, prá se tornar sonho.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Eu tenho que perguntar o porquê.

Como faço as vistas,
que nenhuma ação, agora,
de mansinho, justifica o meu auto-flagelo.

Quis me matar em goles,
consumir-me em braços
que me davam ojerija.
Tudo porque me senti profana demais,
a teu ver.

Era você e o mau gênio do meu pai
que me consumiam assim.
E fui eu mesma que cavei o meu poço sem fim.

Agora , eu tenho que perguntar o porquê:
Você não está mais noivo,
meu pai morre aos poucos
e eu vou ser mãe.

Todos tenderam a entropia.
Menos eu, menos eu...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre beber todas.

Faz bem mais de meio ano,
que estou abstêmia.

É o preço que se paga pela vanguarda:
Tudo o que é vivo dentro de você
é prelúdio para uma chacina.

Antes eu bebia prá me anestesiar,
era tudo o que eu queria:
Devaneio gratuíto.
E tudo o que consegui fora:
sofrimento gratuíto.

Já diziam os antigos:
Tornei-me um ébrio.
Eu digo que tornei-me
e de tantas voltas que dei
fiz caldo de mim mesma.

Mudei meu nome prá Perpétua.
Bebi e fui em cana.
Nos devaneios amargos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Dos doces queimados.

Eu bem que tentei,
a abóbora não se desmanchou,
depois de duas horas cozinhando,
e o açúcar, em calda, queimou.


Não sirvo nem para as aptidões domésticas,
e temo o meu porvir.

É de enjôo e de pedra,
de suplício e martírio.
Não fui feita prá ser moça.
Não fui feita prá ser vício;

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A gravidade não esqueceu, de me levar ao chão novamente.

Hoje eu vi uma velha,
uma velha amarga , ranzinza e de sonhos opacos.
Ela reclamava das dores constantes,
e que da cama já não se levantava.

Que se o marido quisesse ,
podia usar das genitálias dela,
porque nem de dor ela iria reclamar.
E muito doía.
Ele assim o fez.

A velha só esboçou um débil sorriso
e disse queria que ele fosse para o inferno.
Mas o inferno era ela.

Pediu para que lhe trocassem a fralda,
e a coberta suja de vômito.
Alcançou com as mãos descascadas o papel e a caneta.


E assim, escreveu esse poema.

domingo, 18 de abril de 2010

Quem semeia a dor, colhe sempre sofrimento.

É esse o a priori de Caim,
aquele que dói o peito dos outros.
É o filho da Babilônia colossal,
aquela que pede a filha,
como o marido que pede a esposa
que se prostitua.


Plantei a semente da doênça,
em tantas noites de delírio anestésico de hospital:
De três em três meses eu sou internada,
nenhum médico sabe o que tenho,
só sabem que minha saúde é frágil,
e que da cama não posso sair.

Ganho mais um atestado,
que em dor e delírio
eu justifico minha ausência.

E que esta,
de mim mesma,
é a principal causa.

Me dizem, então enfadonho:
-Quem semeia vento, colhe sempre tempestade.

E Eu então irónico:
-Quem semeia a dor, colhe sempre sofrimento.

quarta-feira, 24 de março de 2010

É a sina Operária.

O trabalho do Artífice- superior,
é o que me livro:
-Vivo das palavras e do método.

Áquele que me teve e me trai
vive da força física,
e dos pêsames diários de carregar peso.

É o meu pesar:
Orgia panacéa em meu lombo e ventre.
É o cão que penetra a cadela morta atropelada,
porque apesar disso, ela estava no cio.

Da minh'encarnação passada,
só quero me livrar das lutas
do verso vermelho versus operários.

sábado, 20 de março de 2010

Fosse sempre Sábado de manhã.

Eu queria,que sábado de manhã
fosse todo dia:
Você ia bater no portão,
e me chamar:
-Bia!

E eu sempre ia ser a moçoila
livre
que fazia mil coisas
e parava tudo prá falar com você.

Não tinha livro, sono ou namorado.

Era eu e você.

Foi tudo embora...
como um dia eu te disse.
A liberdade, ás mil coisas e você.

Só ficou a saudade.
Só ela que sempre fica.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Mater Dolorosa

Eu, que deixei de ser moça,
Tenho em mim o grito de todas as mães do mundo:
Áquelas mães-das-ruas,
que ninguém presta atenção.

Porque delas que vem o bendito-fruto,
como dos meus cotilédones internos
que abrigam a mais pura poesia.

Eu condeno as mamães arbitrárias:
Que deixam seus filhos com as avós
e pegam rapazes ricos por aí.
Porque elas me dizem que não sou sensível prá ser mãe...
Que não encho de frufru,e não falo no diminutivo:
Esse, só o que me traiu.

Mãe boa é a minha,
que me ajudou a tomar porrada da vida,
e agora me acholhe em seu seio.

Mãe boa sou eu,
que minha filha vou criar no colorido e no cinza,
para que quando moça,
possa voar que nem eu.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Roubada a história, ficam as feridas.

É cada pedacinho,
que faz uma pessoa,
que os ladrões tiram.

Um herbicida para os sonhos.

Mas há o curar:
Preencher as feridas alheias.
E assim cicatrizar as minhas.

E os trigos colher outra vez.
A deixar o joio para as pastagens latrinas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Na Corda bamba,de sombrinha.

Eu gritava, com tudo
e todos.
E hoje, sinto falta do som...
E ouço meu próprio silêncio:
ao mirar minha pele pálida nas poças.

É o meu maior grito.
A quietude e a soledade.
Porque assim não há mais valia,
além do que vale para mim.

É um único holofote no palco,
todo escuro.
Discreto;
Fico feliz- pois deixei de ser palhaço.

E matar as lágrimas em rizos.
Ás raízes dos erros perenes,
que canto hoje.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Dormida.

Eu tive um sonho dentro de outro:
Era um gueto, onde as crianças brincavam
felizes com bolhas nas mãos.

Eu era uma delas,
sentada sozinha em um tronco.
Não tinha bonecas ou piões.
Só uma pobre cotovia.

Que não podia voar:
Tinham cortado suas asas.

E ela piava triste.
Para sempre.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Escombros.

É porque eu mirei a sombra,
de Orfeu, que virei pedra.
A pedra da sombra.

E nas pedras do limbo,
ainda há os ninhos:
De vermes multicoloridos.

E tudo caiu na minhas costas
ao soar a sétima trombeta.
Era a salvação!

Sou uma pedra bruta,
com os pés calejados
e o pulmão cinzento.
Sou a garota-cinzeiro,
e deixo que apaguem cigarros em mim.

E meus braços,
jaziam no cimento
da benfeitoria pública.

Era rubro.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sanatorium Altrosa.

É o meu vício de todos os dias:
Sentar em um quarto vazio,
beber absinto e escrever poesia.
É escuro, e ninguém me vê.

Só o Fauno, o meu eu dionisíaco,
que se enforca em um manicômio,
com os cadarços do próprio All Star.
Como escritora inglesa.

Estou grávida de minha própria sombra,
e há no meu Violino, uma renca de motivos.
Talvez um dia eu cante ás margaridas ,
mas hoje só o faço das flores que nascem
- No meio do esgoto.

O meu esgoto de mundo.
Imundo.

Do alto da minha montanha,
tenho apenas as curas musicais:
De outrossim, não como'eu.