terça-feira, 27 de abril de 2010

Dos doces queimados.

Eu bem que tentei,
a abóbora não se desmanchou,
depois de duas horas cozinhando,
e o açúcar, em calda, queimou.


Não sirvo nem para as aptidões domésticas,
e temo o meu porvir.

É de enjôo e de pedra,
de suplício e martírio.
Não fui feita prá ser moça.
Não fui feita prá ser vício;

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A gravidade não esqueceu, de me levar ao chão novamente.

Hoje eu vi uma velha,
uma velha amarga , ranzinza e de sonhos opacos.
Ela reclamava das dores constantes,
e que da cama já não se levantava.

Que se o marido quisesse ,
podia usar das genitálias dela,
porque nem de dor ela iria reclamar.
E muito doía.
Ele assim o fez.

A velha só esboçou um débil sorriso
e disse queria que ele fosse para o inferno.
Mas o inferno era ela.

Pediu para que lhe trocassem a fralda,
e a coberta suja de vômito.
Alcançou com as mãos descascadas o papel e a caneta.


E assim, escreveu esse poema.

domingo, 18 de abril de 2010

Quem semeia a dor, colhe sempre sofrimento.

É esse o a priori de Caim,
aquele que dói o peito dos outros.
É o filho da Babilônia colossal,
aquela que pede a filha,
como o marido que pede a esposa
que se prostitua.


Plantei a semente da doênça,
em tantas noites de delírio anestésico de hospital:
De três em três meses eu sou internada,
nenhum médico sabe o que tenho,
só sabem que minha saúde é frágil,
e que da cama não posso sair.

Ganho mais um atestado,
que em dor e delírio
eu justifico minha ausência.

E que esta,
de mim mesma,
é a principal causa.

Me dizem, então enfadonho:
-Quem semeia vento, colhe sempre tempestade.

E Eu então irónico:
-Quem semeia a dor, colhe sempre sofrimento.